Estudo de Valuation é a base para uma boa negociação
25/11/2020
Com o atual cenário econômico, financeiro e político mundial, são vários os fatores que vêm aquecendo o mercado de aquisição e vendas de empresas no Brasil. Entre eles, a crise provocada pela pandemia, que está obrigando empresários a vender apressadamente o seu patrimônio.
(*) Eduardo Belli Neto
A situação de algumas empresas por conta da crise provocada pelo novo coronavírus está sendo um grande desafio mercadológico. Ao mesmo tempo em que a crise desenha uma excelente oportunidade para outras. Entre os principais fatores de sucesso para uma parte dessas empresas está a possibilidade de cada uma delas ser negociada neste momento tão delicado, o que, por vezes, acaba gerando um ganho para os acionistas em valores talvez sequer imaginados pelos investidores, sócios ou simplesmente donos.
Contudo, esse valor considerado previamente como portentoso poderia, sim, ser muito maior. Isso por que muitas empresas simplesmente desconhecem as suas próprias informações. Alguns empresários não sabem ou não possuem informações básicas sobre os seus negócios. Sim, é verdade. Informações como a expectativa de faturamento da empresa para os próximos anos, qual o seu ponto de equilíbrio, qual estratégia operacional ou tática deve ser empregada nos próximos anos são alguns exemplos de informações que muitos proprietários de empresas desconhecem.
Geralmente, na visão do dono, existe um “achômetro” do valor ideal de venda de sua empresa, não levando em consideração informações técnicas como as fornecidas durante o processo de Valuation. Valuation é o termo em inglês para "Avaliação de Empresas", "Valoração de Empresas" e "Arbitragem de Valor". Uma área de Finanças que estuda o processo de se avaliar o valor de determinado ativo, financeiro ou real.
Segundo o “Papa do Valuation”, Aswath Damodaran, saber o valor de um ativo não é um pré-requisito para sucesso nos investimentos, mas ajuda o investidor a tomar decisões mais inteligentes. Assim, ele é capaz de compor a base de informações técnicas e evidentes para um boa negociação entre as partes pois, afinal, o futuro é sempre incerto e possibilidades de erros e estimativas sempre irão existir.
Hoje, com a covid-19, podemos perceber que todo o planejamento que uma empresa possa ter definido no final de 2019 ou início de 2020, dificilmente se concretizou. Foram tantas variáveis que as empresas, mesmo corrigindo os desvios, dificilmente conseguiram atingir as metas e planos elaborados.
Independentemente de qualquer definição estratégica, o Valuation é apenas uma das etapas que um empresário deve seguir para pensar na negociação e venda de um negócio. É necessário avaliar alguns outros pontos, como potenciais interessados com capacidade de execução do negócio, elaboração de prospectos da empresa, acordos de confidencialidade, recebimento de propostas, processos de Due Diligence (Diligência Prévia, refere-se ao processo de investigação de uma oportunidade de negócio que o investidor deverá aceitar para poder avaliar os riscos da transação) e, finalmente, assinatura de contratos, sendo esse último tão importante quanto os outros.
Em anos de experiência profissional tive a oportunidade de participar e acompanhar desdobramentos muito interessantes quando o contrato já estava assinado e a empresa havia entendido que o negócio estava realizado mas…não era bem assim. O fato é que muitos problemas acabam sendo detectados e reconhecidos pelo comprador somente quando este passa a dirigir de fato a nova organização. E, por vezes, são problemas trabalhistas, operacionais e tributários que, durante o processo de Due Diligence, não foram encontrados e acabam voltando a ser pauta e ajuste dos valores a serem pagos.
Por essa razão, contratar uma empresa de consultoria séria e com capacidade de avaliar e direcionar corretamente os proprietários da empresa a ser vendida, minimiza riscos e reduze a exposição da gestão anterior. Além de que, praticamente, garante que a negociação com base no Valuation faça sentido.
Quando comparamos a venda de uma empresa com a venda de uma casa, concluímos que não adianta nada contratar o corretor de imóveis para vender a casa, se a casa está em péssimo estado. Por mais que o dono queira um valor maior, esse valor não é sustentado pelo estado da casa. Nas empresas, a situação é similar, pois o processo de Due Diligence refere-se a essa visita do possível comprador. Se fisicamente, aos olhos do comprador, as informações não condizem com a documentação apresentada, dificilmente o negócio será realizado. Ou, se fechado, será por um valor menor do que o estabelecido no Valuation.
Por fim, a pergunta que cabe para um processo de Valuation é: qual o valor justo de uma empresa? E a resposta é: aquele valor que satisfaz a expectativa do vendedor e possibilita um retorno adequado do capital investido do comprador.
(*) Eduardo Belli Neto é gerente de Controladoria e Planejamento Financeiro da Hesselbach Company.
PERFIL - Eduardo Belli Neto é graduado em Ciências Contábeis e Administração de Empresas. Com especialização em Gestão de Negócios, possui MBA em Controladoria e Finanças e Gestão Empresarial. Apresenta extensa experiência profissional no gerenciamento das áreas de Controladoria, Finanças, Contabilidade, Fiscal, Auditoria e Controles Internos em empresas de diversos segmentos. Atuou em projetos de reestruturação de empresas, fusões e aquisições, implantação de sistemas (ERP, SIG e BI), revisão e planejamento tributário e financeiro. Possui experiência em processos de investimentos estruturados com estudos de viabilidade econômica, foco na análise financeira, estratégica e operacional, além da gestão de equipes multifuncionais.